domingo, 4 de outubro de 2015

MODALIDADES DISCURSIVAS

Procuramos no capítulo anterior mostrar a existência de relações entre a
estrutura ideológica do signo, o discurso persuasivo e as instituições. Cabe agora
situar um pouco melhor outros tipos discursivos a fim de que se possam
perceber novos detalhes que contribuem para configurar as particularidades
organizadoras do modo persuasivo.
Em um livro muito instigante, e do qual retiramos algumas idéias para
serem discutidas neste capítulo, A linguagem e seu funcionamento, Eni Orlandi
apresenta três grandes modos organizacionais do discurso: o polêmico, o lúdico
e o autoritário. Antes de passar à verificação de cada tipo, convém lembrar que
não estamos diante de categorias autônomas, mas de dominância. Ou seja, não
são formas puras e sim híbridas, existindo, porém, sempre, a preponderância de
uma sobre a outra. Assim sendo, o polêmico pode conter o lúdico, ou o
autoritário o polêmico etc. Ocorre que uma das formas estará sempre em
situação de dominância, sendo mais visível, portanto, caracterizadora.
O discurso lúdico
Consideremos que esta seria a forma mais aberta e “democrática” de
discurso. Residiria aqui um menor grau de persuasão, tendendo, em alguns
casos, ao quase desaparecimento do imperativo e da verdade única e acabada.
Lúdico significa jogo. Seria, pois, um tipo discursivo marcado pelo jogo de
interlocuções. Vale dizer, o movimento dialógico eu-tu-eu se dinamiza e passa a
conviver com signos mais abertos: há menos verdade de um, logo, menos desejo
de convencer. Nesse caso, o signo ganha uma dimensão múltipla, plural, de forte
polissemia: os sentidos se estilhaçam, expondo as riquezas de novos sentidos.
Os signos se abrem e revelam a poesia da descoberta; a aventura dos
significados passa a ter o sabor do encontro de outros significados.
O discurso lúdico compreenderia boa parte da produção artística, por exemplo, a
música, a literatura. É ver-se um texto como Alegria, alegria ou Tropicália, de
Caetano Veloso; um poema como Tecendo a manhã, de João Cabral de Melo
Neto; um romance como Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. A
própria descoberta da linguagem pela criança tem muito deste caráter de jogo
com as palavras: prazer e encantamento com os mistérios dos sons.

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