domingo, 4 de outubro de 2015

ALGUNS RACIOCÍNIOS

É possível visualizar no mundo clássico a existência de raciocínios
discursivos — já codificados pela retórica — que possuíam gradações
persuasivas. Vamos arrolar alguns desses raciocínios, procurando atualizá-los
através de exemplos mais próximos do nosso cotidiano.
O raciocínio apodítico (apodeiktkós) possuía o tom da verdade
inquestionável. O que se pode verificar aqui é o mais completo dirigismo das
idéias; a argumentação é realizada com tal grau de fechamento que não resta ao
receptor qualquer duvida quanto à verdade do emissor.
Exemplo: Zupavitin, a sopa que emagrece 1 quilo por dia.
Raciocínio implícito: Se você quer emagrecer, deve tomar Zupavitin.
O caráter imperativo do verbo torna indiscutível o enunciado. O receptor
fica impedido de esboçar qualquer questionamento. É um raciocínio fechado em
si mesmo que não dá margem a discussão.
Já o raciocínio dialético (não se deve confundir com a visão marxista do
termo) busca quebrar a inflexibilidade do raciocínio apodítico. Agora, aponta-se
para mais de uma conclusão possível. No entanto, o modo de reformular as
hipóteses acaba por indicar a conclusão mais aceitável. É um jogo de sutilezas
* ECO, Umberto. A estrutura ausente, São Paulo, Perspectiva, 1971. p.74.
que consiste em fazer parecer ao receptor existir uma abertura no interior do
discurso.
Exemplo: Você poderia comprar várias marcas de sabão em pó. Mas há
uma que lava mais branco.
O verbo no condicional cria a idéia de que se pode seguir múltiplos
caminhos para a compra do sabão em pó. Há várias marcas à sua disposição,
porém uma delas é destacada na conclusão. Ou seja, o enunciado já contém a
verdade final desejada pelo emissor.
A terceira grande categoria de raciocínio é o retórico, que era, portanto,
também o nome de um mecanismo de conduçao das idéias. Há certa semelhança
entre o dialético e o retórico, apenas no último caso não se busca um
convencimento racional, mas igualmente emotivo. O raciocínio retórico é capaz
de atuar junto a mentes e corações, num eficiente mecanismo de envolvimento
do receptor.
Exemplo: O candidato X deve merecer seu voto porque é um democrata;
realizará mais pelo bem comum, é amigo dos humildes, defensor dos
desfavorecidos.
Agora, já não se quer apenas o assentimento lógico, deseja-se também
trabalhar com os dados emocionais. É o tipo de discurso que caracteriza o
conselho paterno:“Olha, você pode ir à festa, porém, se ficasse em casa, nós
poderíamos...”
Algumas figuras
As figuras de retórica são importantes recursos para prender a atenção do
receptor naqueles argumentos arti culados pelo discurso.
As figuras, ou translações, como as definem certos autores, cumprem a
função de redefinir um determinado campo de informação, criando efeitos novos
e que sejam de atrair a atenção do receptor. São expressões figurativas que
conseguem quebrar a significação própria e esperada daquele campo de
palavras.
Entre as figuras mais usadas estão a metáfora e a metonímia, consideradas pelo
lingüista Roman Jakobson como espécie de matrizes presentes, ora com
dominância de uma, ora com a da outra, na imensa maioria dos textos.

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