domingo, 4 de outubro de 2015

INFORMAÇÃO SEM PERSUAÇÃO?

“Mas devemos defender-nos de toda
palavra, toda linguagem que nos desfigure o mundo, que nos separe das
criaturas humanas, que nos afaste das raízes da vida.”
                                                           Érico Veríssimo


A revista americana Newsweek se fazia anunciar, em cartazes
publicitários afixados em alguns pontos de vendas, como aquela que não
persuadia, mas informava. Afora querer convencer-nos acerca do
conhecido mito da neutralidade jornalística, a revista parecia desejosa de
exorcizar (-se?) um demônio que vincula à persuasão alguns qualificativos
como fraude, engodo, mentira. Deixar claro, nesse caso, uma atitude
antipersuasiva objetiva fixar uma imagem de respeitabilidade /
credibilidade junto aos leitores. Supondo-se que a revista espelhasse a
mais completa lisura, o mais profundo aferramento aos princípios de uma
informação incontaminada pela presença de interesses vários, ainda assim
estaria ela isenta do ato persuasivo? A resposta é não. Afinal, o próprio
slogan da revista, aquela que não persuade, já nos remete à idéia de que
estamos diante de um veículo marcado pela correção e honestidade,
diferente de outros, e no qual o leitor pode confiar plenamente. De certo
modo, o ponto de vista do receptor é dirigido por um emissor que, mais ou
menos oculto, e falando quase impessoalmente, constrói sob a sutil forma
da negação uma afirmação cujo propósito é o de persuadir alguém acerca
da verdade de outrem. Isso nos revela a existência de graus de persuasão:
alguns mais ou menos visíveis, outros mais ou menos mascarados.
Generalizando um pouco a questão, é possível afirmar que o elemento
persuasivo está colado ao discurso como a pele ao corpo. É muito difícil
rastrearmos organizações discursivas que escapem à persuasão; talvez a
arte, algumas manifestações literárias, jogos verbais, um ou outro texto
marcado pelo elemento lúdico.
O que pretendemos neste livro é levantar algumas questões
sugeridas pelo discurso persuasivo. Daí buscarmos situar um pouco da
história da persuasão, assim como revelar certos mecanismos persuasivos
no interior do discurso verbal.
Cabe lembrar que, pela natureza introdutória deste livro, alguns pontos
passíveis de aprofundamento ficarão como sugestão. Acreditamos, porém,
que as idéias aqui elaboradas ajudarão a compreender até onde certas
técnicas de convencimento verbal se articulam, particularmente nos
discursos institucionais, com aqueles elementos de justificaçao ideológica
próprios do discurso persuasivo. Estaremos satisfeitos se este livro ajudar
a especular até onde o reconhecimento das formas persuasivas permite
aventar a possibilidade de encontrar discursos de outra ordem. Se
existirem, evidentemente.

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